5:43 AM O Gigante acordou. E foi assistir ao jogo. |
Filipe Augusto Santos* Imagine
um homem gigante. Ele vive numa casa gigante, assiste a uma TV gigante, deita
num sofá gigante e é lógico, tem problemas gigantes. Mas bem, como tudo ao seu
redor está em proporções absurdas, ele não consegue perceber, nem se dar conta
de sua grandeza. Pois é. O Brasil é assim.
Existe um conto que lembras essas coisas. Em "As Viagens de
Gulliver", o protagonista, um indivíduo totalmente comum, na verdade até
subestimado por seus conhecidos, um dia se perde e vai parar numa terra onde
todos os habitantes são seres minúsculos, e justamente por essa condição, o
consideram um gigante, e assim, nessa terra, ele passa a mostrar o seu
valor para os pequenos habitantes e eles o agradecem, e ele é tratado como um
incrível e bondoso Deus. O nosso Estado é assim. Mas ao contrário. É um gigante também, mas
não se curva para ajudar os pequenos e frágeis habitantes daqui. O Brasil só se
porta com humildade quando está diante daqueles que são maiores do que ele,
naquela forma de bajulação moderna a que foi dado o nome de "relações
internacionais", em que abaixamos a cabeça e abrimos o sorriso, as portas
(e porque não dizer também as pernas?) pr'aquele que pagar melhor. Mas no resto
do tempo, o Brasil é um gigante no mínimo apático, quando não arrogante, que
pisa e maltrata os frágeis (leia-se mulheres, crianças, índios e professores). O Brasil é aquele homem que posa de bom marido no jantar chique na
Embaixada, mas que quando chega em casa vai espancar sua mulher e seu filho.
Aquele cara que paga de rico na coluna social, e que vai comer quanto caviar
puder, pra não abrir as latas de sardinha, que são tudo que ele tem em casa. É
um gigante que está dormindo e está cercado de pernilongos que estão chupando
seu sangue, e não se incomoda, desde que eles não atrapalhem o seu sono, vocês
bem sabem. Sabem que é um gigante preguiçoso, que quando finalmente acorda, usa
uma força desproporcional e desnecessária para matar um mosquitinho. Sim, o gigante acordou, mas não levantou do sofá. O gigante Brasil assistia ao telejornal deitado no seu sofá gigante e
com a longa duração do bloco que contava as notícias de corrupção, ficou de
saco cheio e apático que é, acabou pegando no sono no sofá ouvindo a televisão,
que a gente sabe, é o sono mais pesado que tem. Quem sabe que horas ele vai
acordar... Quem sabe quando ele ouvir que vem aí os gols da rodada. *Graduando em Direito pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI |
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